Autor: Marcelo Mússuri
Editora: Novos Talentos
Ano de lançamento: 2014
Status: Livro em série
#1 A Casa de Avis
#2 Não divulgado
#3 Não divulgado
Páginas: 374
Onde encontrar: Saraiva
Que uma esquadra com treze
caravelas aportou na costa nordeste brasileira em 22 de abril de 1500,
capitaneada por Pedro Alvares Cabral, brevemente, antes de partir em direção ao
extremo oriente nós aprendemos no 1º ano do ensino fundamental. E essa, que
seria o “início” do nosso país, é a história que escutaremos, repetidas vezes,
durante todas a nossa formação acadêmica básica, com alguns de talhes
adicionados ou corrigidos eventualmente. O que poucos brasileiros sabem, na
verdade, o que poucas pessoas sabem em geral, é que a história é infinita mesmo
antes de seu “início”, uma ciência misteriosa em seus esclarecimentos. Por isso
é que antes de 22 de abril de 1500 houve muita coisa em Portugal, no “Brasil”,
no mundo e entre “Brasil” e Portugal.
"Para aquele monarca dedicado, que, como ele mesmo sempre dizia, havia herdado apenas as estradas de seu país, depois que seu pai, terrivelmente influenciado pelos abutres à sua volta, além de declarado guerra ao seu poderoso rival inúmeras vezes, enfraquecendo seu pequeno reino, simplesmente entregara todo o poder régio nas mão da ambiciosa nobreza. Agora, pensava ele, sua nação finalmente tinha encontrado o seu lugar."
Leitores gostam de histórias,
diversos tipos e especificidades delas, e também há leitores que gostam de
histórias da História. Como quer que seja, acho que A Casa de Avis irá agradar a todos esses tipos de leitores. Sim, é
um livro de inspiração histórica, os fatos narrados ali aconteceram e estão
documentados de alguma forma, é assim que a História funciona. Mas não, se você
não gosta de História, se você sentia uma irresistível vontade de dormir
durante essas aulas na escola ou dormia mesmo, não, você não precisa ter
medo, repudiar ou começar a bocejar só de pensar em ler A Casa de Avis. Não mesmo, aliás, essas seriam atitudes
completamente precipitadas.
A Casa de Avis é o primeiro volume da Trilogia Calicute e nos conta
de forma romanceada a ascensão de Portugal como Pioneiro e Senhor dos Mares nos
séculos XIV e XV. Mais especificamente, a história nos revela como a paixão, a
coragem, a esperança e a lealdade de um Capitão e sua “tripulação de ratos” foi
capaz de alçar esse país espremido entre a Europa e o Atlântico à glória. Se
você pensou que eu estava falando de Pedro Alvares Cabral, aqui começam as
surpresas: não, eu estava loooonge de me referir a ele.
Estou falando de Bartolomeu Dias, que será apenas Dias daqui para frente para nós. Tudo começa com uma execução ocorrendo em Évora, numa manhã de verão de 1483, o rei D. João II executava em praça pública D. Fernando II, duque de Bragança, acusado de traição. Na plateia estão Dias e Diogo, bravos irmãos, um valente e “homem de confiança” do rei o outro um exímio espadachim e homem de confiança do irmão. Mas há muito mais gente na plateia, gente que se perde de vista e gente que não pode ser vista, como o pequeno Jaime, filho do condenado, que assiste a tudo na companhia do rei.
Os caminhos de Jaime, Dias e
Diogo se cruzam após o ato público, nas hostis estradas de Portugal, o menino é
“parcialmente resgatado” do domínio de guardas reais que o escoltam até o
estaleiro de Lagos. É a primeira vez que conhecemos a bravura e a compaixão de
Diogo e Dias. Um pouco além desse ponto, fazemos uma interessantíssima viagem no
tempo. Voltamos cerca de 65 anos, para uma grandiosa vitória portuguesa sobre
os Mouros (povo muçulmano) no Norte da África, em nome da senhora Igreja,
contra as almas profanas. Sabem o que é isso? Uma batalha sangrenta, um período
conturbado, o “colapso” da Idade Média, e resquícios das famosas Cruzadas. Três
Príncipes Infantes de Portugal são honrados com as Ordens e assim assumem um
compromisso não só com o país, mas principalmente com a Mãe de Todos.
"O massacre continuou até o início da tarde. Seguindo uma sequência meticulosamente demoníaca, os pequenos vilarejos eram cercados de modo que o ataque causasse o máximo de pânico na população indefesa. Apenas um aldeão era poupado para fugir e avisar a vila mais próxima que a morte estava seguindo como um touro enfurecido, mas não antes de ter um olho perfurado com a ponta de um punhal."
Uma Parte inteira do livro, que é
dividido em 10 partes, é dedicada à esse período, merecidamente. Temos a chance
de conhecer as intrigas políticas e familiares que estão no cerne do jovem
reino, algo que é muito importante para sustentar a narração posterior do
romance. O mais interessante, entretanto, é a forma como a parte histórica é
retratada tão naturalmente. Eu fiquei intrigada pelos laços interpessoais,
pelos jogos de poder, pela fidelidade e pela infidelidade, pela repugnância e
pela humanidade dos personagens. Há mortes, debates, rituais e batalhas
travadas. Resultado: manipulações, um Rei sem poderes consolidados, uma família
em frangalhos, uma conspiração e uma querela entre Portugal e Castella (um dos
reinos que virá a compor a Espanha).
De volta àquele “tempo presente” já se passaram 4 anos desde a
execução. O que vemos é um Dias afoito chegar ao estaleiro, com atitudes surpreendentes, para enfrentar o mar com uma tripulação de “ratos”. Aqui está
outro aspecto curioso da obra: a ambientação. Bom, basta lembrar que é um
período de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna, você provavelmente
deve se recordar que hábitos de higiene quase inexistentes, precárias moradias
e grandes epidemias compunham o cenário Europeu da época. Como isso é
evidenciado na história? Não, nada haver com os textos de livros didáticos.
Através daquela linguagem que estamos muito bem habituados: hábitos e ações
das personagens, acontecimentos, descrição do tempo e espaço – prosa. E isso é
incrível! Uma imersão na história, realista e pouco agradável, mas sensível!
A narração da história a bordo é
uma parte muito legal aqui. Temos aventura, dificuldades muitas dificuldades,
uma forte representação da fé e imaginário da época, situação cômicas, situações
tristes, situações tensas. Dificilmente quando lemos histórias que abordem
navegação vamos encontrar algo desse tipo: uma realidade romanceada. Calmarias
terríveis, abatimentos, lutas, medos, tempestades, festejos, descobertas. Tudo
a bordo. É muito curioso como a sensação da passagem do tempo te afeta durante
a leitura. São circunstâncias que você poderia até considerar simples, se você
não estivesse naquele tempo e sob aquelas condições, coisa que vai ser
impossível, porque você é imerso naquele contexto durante toda a leitura, de
modo que não será surpreendente se você perder o fôlego ou começar a fazer
preces enquanto lê.
"Devagar, foi chegando perto daquele corto magro e pequenino até abraçá-lo com ternura.
- O que aconteceu? - perguntou ele.
- Ele não resistiu - respondeu mestre Clemente."
Ao longo do livro identificamos
sutilmente celebres personagens da História Mundial como o genovês Cristovão
Colombo, a rainha Isabelle de Castella da Espanha, o rei D. Manuel I O
Bem-aventurado de Portugal, o fidalgo Pedro Álvares Cabral. Apresentados
gradativamente e tão bem contextualizados que você tem certa surpresa quando os
identifica. Não só os personagens, mas também os lugares: um lugar descoberto, um marco temível encontrado no contorno
sul do Continente Africano. Mais do que uma pintura intrigante dos fatos
históricos que conhecemos ao menos superficialmente, A Casa de Avis é repleta de bastidores, histórias secundárias
cruciais para o todo simplificado. Protagonizadas por Dias, Diogo e João Lopo -
navegadores e capitães, Jaime - que passa a ser marujo do algoz de seu pai,
Zuberi - um negro escravizado - e os demais bravos homens portugueses que
trabalhavam desumanamente no estaleiro, e depois no mar, para construir a
glória de Portugal.
"- Manteremos o sigilo absoluto, nosso rei ainda negocia os termos do tratado com a Espanha e, enquanto não tivermos concluído, agiremos como autênticos portugueses, em segredo."
"- Não sei, senhor, só sei que se nos distanciamos muito da costa podemos ser comidos por polvos gigantes." |
Com uma narração simples, mas um
pouco alongada, em terceira pessoa e uma linguagem fácil, mas um pouco pesada em certas passagens, A Casa de Avis é uma aventura surpreendente
por sua força e pela veracidade e proximidade que possui. A diagramação
proporciona uma leitura confortável no quesito fonte e margens, e a divisão é
feita em Partes subdivididas em passagens claramente demarcadas, mas não
estruturadas como capítulos. Esse último aspecto foi um pouco incomodo para
mim, porque eu tenho mania de só finalizar a leitura quando eu fecho um
capítulo, então eu ficava um pouco incerta de como fazer minhas pausas. [risos]
Loucura minha, mas é isso aí. Alem disso, alguns aspectos históricos sofreram
leves adaptações, mas tudo é devidamente esclarecido em uma Nota Histórica ao
fim da obra.
"- Você é a espécie mais desprezível da criação, Italiano! - uma saliva grossa se esticava entre os dentes quado a boca abria com mais insultos. - Não possui e nunca vai possuir nenhuma idéia original, vive de adular e especular, além é claro, da caridade daquela infeliz!"
Dado ao fato que a trilogia é
denominada como Clicute (nome da primeira cidade Indiana conquistada pelos
Portugueses) eu prevejo que os volumes seguintes irão focar em desvendar uma
parte da história portuguesa que não conhecemos muito bem: a conquista do
Oriente. Estou curiosa para isso, e para o fato de relações entre os “dois
mundos” conquistados por Portugal serem apresentadas e esclarecidas. Enfim, se
vocês querem conhecer uma aventura que passe uma sensação familiar e
surpreendente ao mesmo tempo, recomendo mesmo
que leiam.
Jesus! Desculpem a extensão da resenha ou devo dizer análise crítica?, mas é que
eu estava realmente animada para essa leitura e fiquei bastante satisfeita com
os resultados. Então para compensá-los em breve eu vou realizar um sorteio de um exemplar
autografado de A Casa de Avis mais
marcadores do livro, carinhosamente cedidos pelo Marcelo Mússuri!!!
Avaliação:
Estou ocm esse livro aqui para ler, até comecei mas depois parei, ele me deu um pouco de tédio e acho que quando for me aventurar nele vai ser uma coisa bem chata, mas não vou julgar antes de ler e ter certeza
ResponderExcluirÓtima resenha, abraços.
Oi Ítalo! Eu demorei um pouco para ler, mas gostei bastante do que fui descobrindo a medida que avançava pelas páginas.
ExcluirEu tenho parceria com o autor, comecei a ler, li o prólogo ainda, mas gostei. Acho que vou adorar o livro, gosto de História, acho bom sabermos o que aconteceu, né?
ResponderExcluireueminhapequenaestante.blogspot.com
Eu também gosto muito de história. Eu demorei um pouco para lê-lo, mas foi uma leitura legal e bem curiosa!
ExcluirOii Dany, tudo bem??
ResponderExcluirMuito boa a sua resenha, os pontos foram bem colocados. Eu sou do tipo que dormia nas aulas de história e na hora da prova enrolava até não querer mais, então não sei se curtiria esse livro, mesmo vc tendo falado, eu já tinha lido alguns outros livros romanceados da história do Brasil e Portugal e não me convenceram, mas enfim. Fico feliz que tenha gostado e as ilustrações estão maravilhosas.
Beijinhos,
Rafaella Lima
http://vamosfalarlivros.blogspot.com.br/
Bom, não é uma leitura muito rápida, mas é bem envolvente. E juro que você consegue se desligar completamente do pensamento "isso é História" enquanto está lendo.
ExcluirNooooossaaaaa capa linda, diagramação linda o livro deve ser muito bom sim.
ResponderExcluirAtualmente, livros com esse estilo tem me chamado muito a atenção. O negócio é o dindin pouco pra muito lançamento bacana..rs
ResponderExcluirVerdade... Ele já esteve algumas vezes na promoção de 9,90 da Saraiva. Quando estiver novamente eu te aviso. ;)
ExcluirEu sempre gostei de história :D E fiquei realmente muito interessada o/ Acho que sempre é bom termos conhecimento do que aconteceu durante todos esses anos, principalmente com o nosso país. A pesquisa deve ter sido muito da bem feita para que você tivesse tão animada para fazer a resenha :D
ResponderExcluirbjs
http://horadaleitur.blogspot.com.br/
Muito mesmo Jess! Tinha acontecimento ali que, eu não sei se por ele próprio ou pela forma da narração, eram tão inesperado que faziam meu queixo cair!
ExcluirSou simplesmente apaixonada por história e pelos livros relacionados à ela.
ResponderExcluirQuero muito ler esse!
Mais um para a lista!
Parabéns pela resenha!
Beijos
Lara - Magia Literária
http://www.magialiteraria.com/
Oi Lara! Obrigada, eu realmente me empolguei porque gostei muito da história. :)
ExcluirOba! Livro com contexto histórico é tudo de bom.
ResponderExcluirSerá que é uma leitura prazerosa e de peso como foi A Batalha do Apocalipse? (que apesar de não ser tão histórico assim, trás muitas referencias da história e da bíblia para montar a ficção).
Sem falar que é um livro nacional! E o design da capa está belíssimo, quero um exemplar na minha estante agora (risos).
Beijinhos =*
Miaka Freitas
http://umsofaalareira.blogspot.com.br/
Olha, a narração é boa, mas não é muuuito ágil. Não li "A batalha do apocalipse" então não posso comparar. Mas gostei muito deste! Fale com o autor.... quem sabe? Ele é muito gente boa!
ExcluirPrimeira vez que vejo sobre este livro, mas não sei se a leitura me agradaria, mas se um dia eu pegar vou tentar ler.
ResponderExcluirÓtima resenha.
Beijos Fê :*
http://fernandabizerra.blogspot.com.br
Obrigada, Fê!
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